As palestras da quarta sessão do VIII Ciclo de Debates, ocorrida no dia 9/5, destacaram a necessidade de cuidado do usuário do sistema de saúde e, também, das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Segundo o pesquisador Juares Soares Costa, da PUC-Campinas, esse cuidado deve considerar o contexto ao qual as equipes estão submetidas e buscar a reflexão dos próprios membros a respeito de suas práticas e formas de relacionamento. Para o professor da Universidade de Brasília Wanderley Codo, debatedor da mesa, a profissionalização do cuidado pode afastar o vínculo entre o profissional de saúde e o usuário.
Casos complexos: quem se implica no cuidado? foi o tema da atividade coordenada pela pesquisadora da UFRJ Valéria Romano. A conferência coube a Juares Costa, que falou sobre a complexidade na saúde. “O campo da saúde teve imensos progressos. Mas sabemos que fica limitado se focalizarmos apenas um indivíduo isoladamente. Os casos complexos ainda são entendidos como os acontecimentos mais graves, mais difíceis de serem entendidos ou que necessitam de um especialista. Talvez só tenhamos casos complexos. Essa é a nossa visão do mundo formada na escola na realidade.”
Sobre as equipes da ESF, o pesquisador afirmou que, para alcançarem a eficiência no trabalho, é necessário organização e comunicação. “Falo da comunicação como a existência de uma base, de significados em comum. Para funcionar bem, a equipe deve ter diferentes olhares, mas também aspectos em comum. Se formarmos um time de futebol com os melhores jogadores do mundo, o sucesso não estará garantido. É preciso integração, comunicação, uma base em comum.”
"É preciso cuidar da própria equipe"
Para alcançar essa eficiência, portanto, é preciso cuidar dos seus componentes e da relação entre os seus membros. “Como se cuida de uma equipe? O trabalho técnico é feito com o usuário, mas muito pouco se faz para cuidar dela. Muitas vezes, ela está num contexto de violência e de diferenças culturais entre o trabalhador e a pessoa atendida. Uma equipe de ESF funciona como um corpo. Assim, devemos cuidar dela da mesma maneira como cuidamos de nós mesmos”, sugeriu Juares, que, em seguida, comentou o trabalho desenvolvido em Campinas. “Temos um trabalho de conversação reflexiva sobre a prática profissional. Falar em reflexão significa olhar para nós mesmos. A ideia é ajudar a equipe a refletir sobre sua prática e a relação entre os membros. A capacitação continuada do profissional também é uma forma de cuidado. Não haverá sobrevivência do trabalhador se não houver cuidado com os participantes.”
Debatedor do encontro, o professor Wanderley Codo revelou que o cuidado era feito em casa, na família, mas atualmente adquiriu um formato profissional. “O cuidado é marcado pelo vínculo imediato e se constrói de maneira rápida. Olho para você, analiso aquilo de que você precisa e o atendo. É a mãe olhando para o filho, com a desconfiança de que ele está com fome e o cuidado para que ele se alimente. A profissionalização do cuidado trouxe um afastamento”, exemplificou.
Ao se referir ao cuidado das equipes, afirmou que os componentes devem ter espaço para discutir as angústias e adoecimentos. “O adoecimento do trabalhador não surge por uma questão individual, mas pela fraqueza da equipe. Ele adoece porque esse tipo de trabalho adoece. Cuidar da saúde do trabalhador também deve fazer parte de suas atribuições.”
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